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A era da insuficiência

Que atire a primeira quem nunca publicou algo no Facebook, não obteve o número de curtidas esperado e, desapontadamente, excluiu a publicação. Sim, eu já fiz isso e acredito que muita gente por aí também já fez.

Esse é um retrato nu e cru de uma realidade que nos consome enquanto seres humanos (não só designers, publicitários, redatores). Estamos (sobre)vivendo a era da insuficiência. Nada é o bastante: sentimento, trabalho, estudo, doação, atenção. Nada. Não basta ter wi-fi, é preciso 3G. Não basta ter um celular; ele precisa ter câmera profissional. As pessoas (e aí, me incluo) sempre esperam mais e mais de tudo e de todos.

Nada do que fazemos é suficiente. O que somos não é suficiente. Ser feliz, completo e bom é necessário. O que se esquece é que se algo se torna uma obrigação deixa de ser felicidade. A felicidade (pelo menos é o que dizem) é algo simples e espontâneo. Tão contrária à obrigação.

Não basta ser (no sentido real da palavra) feliz, é necessário mostrar, publicar, postar, tuitar para que ela se torne válida e, me arrisco a dizer, existente. Você já pensou em excluir sua rede social para, quem sabe, viver?

Enxurradas de imagens jorram na minha timeline simulando situações que deveriam ser reais, com as quais concordo, mas às quais não me rendo. “Não temos wi-fi, conversem entre si”, diz a imagem. “Se eu colocar seu celular na minha testa, você conversaria comigo?”, mostra outra ilustração. Lindo, verdadeiro, importante, mas, quase impossível de praticar. Se você está lendo esse texto, concordando com o que digo e, ao terminá-lo, irá voltar pra rede social, curti-lo, comentá-lo e compartilhá-lo, você (assim como eu) também é um insuficiente. Aliás, você vai curtir – comentar e compartilhar – esse texto mesmo, não é?

OK, OK, mesmo que você não curta, não comente, não compartilhe, não recomende este texto, te convido a discutir sobre como ser uma pessoa (um pouco mais) suficiente (na vida e, depois, na rede social). Em algum artigo anterior, condenei os textos que abordam assuntos como “10 dicas para…” ou “15 passos para…” e, reforço, apesar da boa intenção, eles nunca são 100% eficazes (ou suficientes, como estamos falando aqui).

Cada situação de negócio, cada cliente, cada ramo e, no caso, cada pessoa é absolutamente única(o). Podemos encontrar pontos em comum, mas, cada um “sabe a dor e a delícia de ser o que é”; ou seja, não há, no mundo, na galáxia, no universo, uma receita de como ser suficiente, feliz e bem-sucedido all the time and everywhere.

Por favor, não estou dizendo para você desconsiderar tudo que leu até agora; o que peço é que, antes de ler toda essa gama de conselhos que se apresentam na sua tela (e aplicar alucinadamente em tudo que fizer), você se conheça, conheça sua regra de negócios, saiba seus objetivos, onde está e onde quer chegar (como pessoa ou em seu business). Assim, crie sua própria metodologia e lembre-se que ela precisa se adaptar verdadeiramente a você e não você se sujeitar a ela. Ela precisa ser flexível, aberta, maleável como a vida é!

Gente (e empresa/negócio) seguro de si consegue muito mais do que um like, um comment ou um share: consegue sucesso (e clientes também). Ou seja: sua ansiedade não levará você a ter muita coisa, mas, com certeza, você terá uma gastrite ou uma úlcera. Tenho pra mim que tutoriais que afirmam ter a receita do sucesso são feitos por pessoas com (in)sucesso de vida.

Acredite em mim: se você se conhecer (e conhecer seu negócio) e souber quais são as suas reais necessidades (do seu mercado também), você irá além de uma webcelebridade, você será o protagonista da maior e melhor rede social existente: a sua vida.

Imagem do casal via Shutterstock.

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