Não tem forma melhor de começar um conto do que imaginar uma cena que reúne pessoas distintas. É um coquetel para a abertura das olimpíadas e personalidades de todas as nações estão presentes. De todos os duzentos-e-pra-burro países.

É um palácio grande, todo em branco e com luzes fortes por toda a parte. Lógico, os mais belos vestidos e mais importantes homens estavam alí. A comida era servida com exatos cinco minutos de intervalo. Fato que pode não contribuir em nada para o conto, mas quem sabe? Talvez não. Só se eu quiser.

Os Ingleses estão parados ao centro do salão principal. Todos tomando chá, falando sobre a realeza e seus soldados com chapéu engraçado. Um italiano passa ao lado, com seus dedos unidos em riste e a mão balançando. Estava reclamando do molho. Os lordes soltam uma risadinha lateral e voltam para o chá.

Tudo corria bem, até que um rapaz de galochas, roupa rasgada e cachimbo entra na sala, esbaforido e grita:

– Meu país também merece entrar nas olimpíadas!

Todos se entreolham, mas voltam os olhares para o rapaz. Visivelmente cansado. Talvez ele tenha brigado com os guardas da entrada. Mas não tinham contratado guardas para a ocasião. Era só um coquetel. Um suíço comenta:

– Deveríamos ter pago a mais por seguranças.

Um lorde inglês responde, em tom grave:

– Não precisamos de guardas brutos por aqui. Vamos resolver tudo na boa e velha conversa. Certo?

O representante do país aleatório está fitando todos, com olhar de desaprovação.

– Rapaz, você quer quanto pra ir embora daqui? Diz o seu preço – rompe o silêncio, um brasileiro.

– Meu país se chama Estinvoláquiako e não fomos reconhecidos como nação. Mas temos a população maior que a do congresso das Bahamas.

Nisso uma manada de Quenianos passa correndo atrás de um elefante. Assustando a todos, menos ao Japonês, que estava no computador, celular e fazendo contas matemáticas aleatórias.

– Vá embora daqui, antes que eu corte seus braços fora e bata em você com eles. Seu grande… – grita um Russo, sem a menor paciência.

Mas é interrompido por uma voz calma e cristalina. Como se uma voz pudesse ser cristalina. Mas a imaginação do leitor pode viajar um pouco, assim como a do autor. Mas, enfim, voltando a voz cristalina:

– Não vamos brigar com ninguém, amigo da Rússia. Esse rapaz veio até aqui fazer um protesto pacífico.

– E quem é você para me impedir? – brandiu o Russo.

– Sou o representante da Índia. Não vê que estou sentado em uma cadeira de pregos e encanto uma serpente enquanto falo com você telepaticamente?

Todos começaram a ficar impacientes. O italiano já tinha jogado três pratos de macarrão na parede por causa do molho. O chinês se multiplicou e já eram cinco. Se a festa continuasse nesse ritmo, poderiam eles formar uma nação e participar efetivamente como China 2.0.

– Então! Vou poder trazer meu país ou não? – Disse novamente o rapaz de roupa rasgada.

– Acreditamos que o conselho poderá averiguar seu pedido – disse o Inglês.

– Você não tem bombas no corpo, tem? – perguntou um Americano.

– Tem dez dolares pra me emprestar? – Disse o Argentino.

Mas o rapaz se cansou das perguntas e foi pra cima do Indiano. Mas acabou agarrando o vento, pois esse se teleportou para o outro lado da sala. O Coreano começou a dançar e comer cachorro. Mas depois efetivamente deu um golpe de taekwondo na cabeça do rapaz. O boliviano largou o cigarro de ervas e correu para acudir o amigo desacordado. Tumulto na sala.

A portuguesa passou as mãos no bigode e disse:

– Vamos parar com essa palhaçada!

– Você não manda nada aqui. Vê se cresce e aparece – disse um senhor muito velho, aparentemente espanhol.

Nisso outra manada de Quenianos passa correndo atrás de um palhaço de circo Austríaco, enquanto um Francês pegava alguns da manada e guardava no bolso.

Depois de cinco minutos de baderna, o telefone de alguém toca. A pessoa atende e rapidamente sai do palácio, correndo feito louco. Era um norte-coreano, ligação do seu país.

Alguma coisa sobre ter que voltar a tempo antes da morte. Algo parecido. Os Chineses já tinham se tornado quarenta e, por isso, resolveram cancelar o coquetel. Superlotação futura.

Ao sair, todos deixavam uma moeda para o mendigo que estava na porta. Inclusive o rapaz do país inexistente. Kistas Milavokanidis agradeceu a todos e voltou para a Grécia. De cavalo. Alugado.

Pausa, leitor. Vamos conversar um pouco.

Sempre no final de um conto, algo surpreendente acontece. Mas nesse em especial, nada de anormal vai acontecer.

Tudo que você leu até agora, pode ser esquecido depois de cinco minutos de televisão. Mas convenhamos, eu não devo bater bem das bolas. Bom, continuando o conto:

Simplesmente todos os representantes pegam o avião e voltam para casa, sem nenhuma história adicional.

Tirando o brasileiro que demorou porque parou pra roubar bananas, bater uma bolinha e ir de galho em galho pela floresta.

Ah,  o norte-coreano morreu.

Molho estragado.