Naldo achou uma máquina do tempo.

Não sei dizer como aconteceu, nem o que Naldo estava fazendo nem onde se encontrava no momento. Mas ele achou uma máquina do tempo. Absorva essa informação. Não há nada que você possa fazer para mudar um texto já escrito.

Naldo olhou com curiosidade para a máquina. Ela mais parecia um carrinho de criança moderadamente grande, onde só cabia uma pessoa. Era cinza em tons crescentes e com todas as formas redondas. Um ovo gigante. Um ovo que viaja no tempo.

Nosso protagonista começou a ler as instruções que constavam no painel. Lá estava a data de 9/10/2013, dia em que Naldo vivia. Ele ponderou que alguém viajara para aquele momento no tempo e tinha deixado a máquina ali. No começo ficou assustado, receoso, mas pensou no seu emprego de entregador de pizza, e sentou sem pensar naquele ovo metálico.

Viajaria para o futuro? Ajustou o ano para 2040. Naldo teria 55 anos naquela data. Se veria no futuro, como seriam seus filhos e seus netos. Se estaria bem de vida, ou se continuaria entregando pizzas até a terceira idade. Poderia pegar todos os resultados de futebol para apostar na volta. Poderia pegar alguma coisa tecnológica e vender em 2013 por um preço abusivo. Ficaria rico.

Naldo pensou bem, e achou que seria perigoso. Já estava tomando antidepressivos há dois anos e, se por acaso, visse seu futuro sem progresso, poderia se matar. Era melhor não arriscar…

Zerou o painel. Pensou em como seria legal visitar a época em que Jesus Cristo havia passado pela Terra. Conheceria os apóstolos, as pessoas, a história. Poderia ser a prova final da existência do messias e de toda a história bíblica. Voltaria ele com status de missionário para 2013.

Mas poderia ser tido como bruxo naquela época. Devido as suas roupas modernas e seu ovo voador. Também seria arriscado voltar trazendo a palavra de Jesus com entusiasmo e ser recebido em 2013 com ceticismo e incredulidade. Seria pior se voltasse e descobrisse que quem escreveu a bíblia foi uma tiazinha louca que criava jacarés e, algumas vezes, saia nas ruas vendendo seu livro.

Naldo afundou na cadeira e suspirou. Não tinha mais ideias. Era tudo muito difícil. As pessoas que passavam no local o olhavam torto. Sentado dentro daquele ovo gigante de metal. Pensou em viajar um dia adiante e comer o almoço do restaurante do dia seguinte. Era seu preferido.

Não. Enjoaria mais rápido se comesse dois dias seguidos. O fato daquela comida ser servida sempre e somente às quartas-feiras era o que a deixava deliciosa.

Pensou em voltar para o dia de ontem. Ou para a semana passada. Mas lembrou-se que nada de bom aconteceu e, no máximo, entregaria duas vezes mais pizzas.

Saiu da máquina, olhou para ela e finalmente percebeu. O antigo dono não voltaria. E ele entendia o motivo.

Nunca na sua vida, Naldo entregou pizzas com tanta vontade como naquele dia. Estava feliz e decidido a viver melhor. Não se importava mais com o que o futuro ou o passado representavam. Ficou realmente orgulhoso da sua decisão. No dia seguinte não passaria nem perto daquela máquina.

No outro dia, na hora do almoço, foi comer no seu restaurante favorito. Quarta-feira, aquela comida deliciosa.

Pensou no suicídio ao ver quantos Naldos haviam por lá. Um deles com 55 anos e outro com a bíblia na mão e um jacaré.