Uma palavra que sempre me encantou, desde a adolescencia, era a “Disparidade”. Usa-la no lugar da palavra “diferença” era algo tão legal quanto fazer o gol da vitória no campinho de barro aqui perto.
Me sentia feliz e superior quando podia usa-la em uma frase e logo após ouvir, atento, da pessoa com quem eu conversava:
– Nossa, tá falando difícil hein? O que significa isso?
E seguia a minha explicação, atenciosa e cautelosa. Sempre com a sensação do dever cumprido.
Mas a língua portuguesa me encanta. De uma forma simplória, mas me encanta. E uma das coisas que me deixa fascinado nessa nossa língua, são os prefixos “dis” e “des“.
Esses dois safadinhos que estão contidos nas palavras: Disparidade, discrepante, desencantado, destemido e afins. Tudo bem, a palavra “afins” não tem os prefixos. Tirei a piada da sua cabeça, certo? Ganhei. (ha-ha!)
Esses prefixos não se aplicam em outras palavras, só em algumas específicas em que a regra permite. Mas bem que todo brasileiro já pensou em burlar essa lei.
– Despequeno Kauê! Tudo em disbaixo?
– Nada cara. Tô discelularizado.
– Mas te desderam?
– Não. Jogaram em uma parede desmole e ele desmontou.
– Que dislegal.
– É meu dia de dissorte.
São conversas interessantes assim que poderíamos ter por aí. E sem ao menos precisar ler duas vezes, como você precisou agora.
Mas como em toda língua, há coisas que me irritam. Como, por exemplo, a não popularização de algumas palavras, ou do modo com que são faladas.
O exemplo mais clássico disso que vos digo, é a palavra “muito”.
Quem, em sã consciência, fala “muito”? Força o nariz de uma forma que poderia causar uma cãibra mucal. Um verdadeiro desnariz.
A palavra deveria ser escrita como “muinto”, como todos a falam. Parece feio e deselegante, mas é porque a professora do ginásio colocou isso na cabeça de vocês. E aposto que todos que estão lendo esse parágrafo agora, estão falando a palavra “muito” para ter certeza que conseguem falar. Mas não desperdicem esforços, é dispossível você falar ela amanhã sem querer. Vai continuar falando “muinto”. Sofra.
Não vou me alongar nessa discussão linguística, porque preciso de assuntos para outras crônicas, lógico. Senão tem o perigo de o autor fica desempregado e o blog, descronicado.
Descomeço.