“É que a televisão me deixou burro, muito burro demais. Agora eu vivo dentro dessa jaula junto dos animais.” (Televisão, Titãs)
A crença de que a internet veio matar a televisão, o rádio e o jornal ainda permanece no coraçãozinho de muitos seres humanos. Chega a ser engraçado. Não compreendo essa motivação que embasa a “teoria” de que o desenvolvimento da internet funcione como algoz e não como paladino das evoluções da atualidade.
A televisão como imaginamos.
Gostar ou não do veículo audiovisual não quer dizer que devemos ignorar por completo sua contribuição para a formação da sociedade. Desde que foi inaugurada no Brasil por Assis Chateaubriand nos anos 50, a TV vem colaborando pela integração de uma nação que precisou se adaptar a muitas novidades. Uma delas era considerar a hipótese de ver alguém dentro de uma caixa preta que se fazia ouvir, mas que não poderia escutar. A relação com esse mecanismo foi ficando mais intensa. Ela estimulou toda família a se acomodar no sofá pra ver noticiários, histórias épicas de programas como “Os trapalhões”, ou ainda integrar-se aquelas novelas cheia de histórias de amor inebriantes.
Os anos foram passando, as opções de programação foram se ampliando e escolhendo cada qual seu público. Os canais chuviscados ganharam espaço e notoriedade. E a antiga caixa preta deu espaço a cor, protagonistas, ícones e telespectadores fiéis. Isso é só uma fatia do bolo que até hoje não terminou de ser feito.
E mesmo com toda evolução funcional que se seguiu, esta ainda é a mídia que mais recebe investimento, tanto em publicidade quanto em produção. E isso tende a se ampliar, não ser exterminado. A TV deverá investir ainda mais em suas grades para bater de frente com o trem de duas toneladas sem freio. Esse trem é a web 2.0 vindo sem pudor, abrindo espaço para a 3.0.
E não deve parar…
A idéia que as pessoas tem de que uma coisa mata a outra, permite a elas apenas uma certeza: não conseguir aproveitar mais de um recurso ao mesmo tempo. Imagina que louco as pessoas começarem a ver melhor as funcionalidades de cada veículo e tirar vantagem deles? Eu continuaria a deixar a TV em segundo plano, mas tenho que confessar que vez ou outra ainda passo os olhos em alguma programação específica. O Youtube veio pra suprir essa necessidade e de maneira mais completa e rápida. Quem sabe daqui alguns anos ele não migre pra televisão, já que há muito tempo a TV tem se instalado nele. O importante é não perder o que você gosta de assistir. O que é bom sempre deve estar ali, e isso independe da forma.
A jaula que aparece na letra do Titãs, na verdade é uma jaula mental. Um compartimento em que a gente se coloca pra tentar moldar uma versão para as histórias que passam do lado de fora. No caso da televisão, a idéia de que “todas as coisas que vemos nos pareçam iguais” faz com que nos tornemos meros repositórios de informação. Na internet a realidade se inverte, mas se o usuário estiver preso a uma idéia sem perspectiva, ele permanecerá condenado da mesma maneira, desta vez numa aba perdida no navegador.
Toda revolução bem sucedida começa de dentro pra fora. O sentido do movimento é que diferencia “arrancada” de “slow motion”. Cada um busca o que quiser, onde quiser, seja na TV, no rádio, no boca a boca ou na internet. Mas vale pensar, se eu posso agregar tudo isso, porque eu tenho que manter a cabeça fechada?
Daniel Z. Chohfi
Daniel Zollinger Chohfi é empresário, publicitário, e ajuda empreendedores a construírem seus negócios com a internet.
Há mais de 15 anos no mercado, já foi dono de agências de marketing digital no Brasil, morou nos EUA, e é editor-chefe do Vitamina Publicitária, eleito como um dos melhores blogs de marketing pela Hubspot. Recentemente foi destaque na Copyblogger, considerada a bíblia do marketing de conteúdo pela VentureBeat.